terça-feira, 6 de setembro de 2016


O NINHO VAZIO - As lembranças

 O NINHO VAZIO - As lembranças

Já é conhecido o estágio familiar chamado de "ninho vazio". Esse é um período que faz parte da vida. Os pais começam a ficar sozinhos, pois os filhos iniciam uma nova etapa das suas vidas. Independência. Talvez sejam poucos os pais que se preparam para enfrentar essa nova realidade. Para outros talvez seja simplesmente uma jogada natural da vida.  Lamentavelmente, não se pode enxergar o que o ninho vazio trará; exceto esperar e se preparar.

Além dos sentimentos confusos da tristeza e do aperto no coração, percebe-se que essas emoções se confundem com as lembranças daquilo que um dia  foi. Essas lembranças não são somente aquelas sobre o que se viveu com os filhos, mas também podem nos levar ainda mais longe, chegando até às nossas origens. Nossos lugares, nossas cidades, nossas brincadeiras. Lugares de onde viemos, que vivemos, onde estivemos e etc. É uma montanha russa misturada a um flash back da vida.

No meu caso, vivi num paraíso que chamei de "paraíso do absorvente". Conviver com  3 filhas e a esposa não poderia ser melhor. Tudo aquilo que requeria o toque feminino estava suprido de forma abundante e plenamente atendido: cores, roupas, estilo, os quais o lado machista faz caber em uma frase, como “coisas de mulheres”...

Mas nem tudo seria cor de rosa. Pois  também era necessário  viver uma tormenta de humor provocada pela impertinente TPM. O paraíso do absorvente tinha suas estações anunciadas pelo calendário mensal destas fabulosas mulheres. E lá estávamos nós celebrando a vida, mas escondido num canto da casa vendo as rajadas das mudanças de humor misturadas e  diversificadas por aqueles sorrisos amorosos e andar dançante e cativante dessas mulheres do meu particular paraíso. Fui um bendito e experimentado entre as mulheres...

Tudo isso agora faz parte de um passado que hoje somente vejo através da névoa das lembranças. Essa névoa de cor gris, que geralmente era  quebrada pelos momentos alegres dos passeios, dos afagos, do carinho, das risadas. Esses momentos foram como o sol da manhã que faz desaparecer a frieza e a escuridão da cerração matinal.

Agora,  é o ninho vazio. É outro momento, é outra vida. É   um  estágio da maturidade que vai nos preparando para o fim da vida. Mas também traz a dor do crescimento para todos. Porém, parece que a dor é maior para os que ficam.  Essa dor somente se alivia com a imaginação dos momentos mágicos das brincadeiras, das quedas, das descobertas do mundo, dos novos aprendizados e das primeiras palavras que são observadas mediante o olhar de um filme ou das fotografias que despertam sentimentos escondidos e desconhecidos na nossa alma. Sentimentos que dilaceram o coração o qual  parece receber novos sulcos por onde transitarão as memórias que não desejo curar nem esquecer.

Agora é o momento em que elas se exercitam no que foram ensinadas. Mas as escolhas são delas. Observo de longe as decisões comuns e diárias. Quando essas decisões são mais sérias, somos aproximados pelo cordão umbilical  que se estendeu através das cidades e dos estados do país. Agora as questões são outras: encarar a vida, os desafios das mudanças de empregos, de residência. Os valores que foram aprendidos são confrontados com a realidade da vida. Já não são as simples trocas de gostos, de cores, de estética ou outras coisas mais simples. Os questionamentos são mais intensos e de vivência. Isso nos aproxima e nos permite ainda ver  aquelas menininhas que se escondiam na saia da mãe ou nos braços do pai que foi pra elas um super herói, fazendo com que se sentissem protegidas das ventanias da vida.

Tudo isso tão somente faz apertar o meu velho coração, pois não desejo que aquelas que amamos vivam na pressão da vida nem no stress do dia a dia. É o instinto natural e paterno de proteção que por vezes reaparece, pois a   maturidade ainda não me ensinou a desvencilhar desse sentimento. Elas podem ter crescido, mas, ainda,  na  nossa alma, elas são as meninas vulneráveis que o mundo parece engolfar com seus desafios e diversas mudanças.

Elas podem ter crescido, mas este pai de meninas ainda não cresceu neste novo mundo do ninho vazio. As questões e perguntas mais simples do dia a dia ainda ecoam na cabeça. As lembranças dessas questões se misturam com as dúvidas e desafios desse novo mundo adulto que  vivem. A razão são os altos voos e o chamado para o êxito que Deus pode e deseja  proporcionar, me convidando a ser um coadjuvante.

É o ecoar da vida e da seriedade, como cantava o poeta, do caminhante que faz caminho ao andar. O voo se levanta e nosso coração acompanha com vigilância e esperança, pois o futuro e o êxito estão nessas alturas aos quais foram impulsionadas desde a mas tenra idade.
O ninho está vazio, mas cheio de lembranças que cativam.